quinta-feira, 7 de abril de 2011

Phoenix Wright (trilogia) para GBA e NDS






Sou e sempre fui um ávido fã de Aventuras Gráficas. Em especial aquelas com quem cresci, saídas dessa máquina genial de fazer videojogos sublimes que era a LucasArts, e as suas séries de Curse of Monkey Island, Maniac Mansion e já no final dos anos 90 o divertidíssimo Grim Fandango, assim como Broken Sword 1 e 2, da Virgin. À excepção da magnífica obra do artista Belga Benoît Sokal, Syberia I-II, já em 2002 e 2004 respectivamente, a última década quase passou em branco no que concerne a Aventuras de relevo e que me tenham de alguma forma apaixonado. Admitindo que um fã de Aventuras Gráficas parte da premissa que um bom jogo do género é obrigatoriamente da plataforma PC, qual não foi a minha surpresa quando vejo ser condensado o maior equilíbrio qualidade/inovação/criatividade num jogo (e uma série de jogos aliás) pela Capcom (conhecida pelos seus beat’em ups, survival horrors, entre outros) para o Gameboy Advance. Phoenix Wright: Ace Attorney, ou no original Gyakuten Saiban Yomigaeru Gyakutenc, criado por Shu Takumi, tornou-se sem sombra de dúvida a minha série favorita de aventuras gráficas. Nos meus diversos pontos de avaliação ao género, conseguiu superar todas as minhas anteriores paixões: a nível de riqueza de personagens conseguiu superar The Curse of Monkey Island, ao nível do humor supera o surreal Maniac Mansion 2, e não tendo um visual 3D como o Syberia, conseguiu, com um aspecto perfeitamente anime-esq de visual novel, ser simultaneamente criativo e apelativo. E a história, essa, consegue submergir-nos neste mundo estranho mas tão semelhante ao nosso, e cativar-nos com momentos mais emocionais tal como o Syberia 2 o fez.

Quando me falaram deste jogo, e me transmitiram o conceito base – em que nós desempenhamos o papel de um advogado de defesa cujo único objectivo é obter um veredicto de “Not Guilty” – reagi com alguma estranheza. “Mas como raio é que alguém consegue por um conceito destes a funcionar? – pensei eu, e depois de ter jogado os 3 Phoenix Wright, o que vos digo é simplesmente: THEY DID IT!







Aviso previamente de eventuais spoilers que esta análise mais profunda dos jogos possa conter.

Storyline e Personagens:

Neste capítulo (e em muitos outros) o 1º título da série é ligeiramente superior às duas sequelas. PWAA cumpre de forma eficaz a tarefa de submergir o jogador no universo, apresentando pouco a pouco os personagens e ligações prévias que estes possam ter tido. O personagem que dá nome à série, Phoenix Wright, é um jovem advogado que tem o seu primeiro caso no início do jogo, tendo a seu lado a sua mentora, a advogada Maya Fey. Phoenix consegue cativar com a sua postura simultaneamente decidida e “clueless”, mas demonstrando sempre um empenho e uma dedicação notoriamente nipónicas, e uma vontade de aprender ao máximo com a sua brilhante mentora. O seu cabelo espetado confere-lhe uma silhueta tão reconhecível que a Capcom utiliza-a enquanto ícone da série. É neste primeiro caso que conhecemos também Larry Butz, o amigo de infância de Phoenix, que é, e sempre foi, um idiota, e que surgirá recorrentemente na série. “When something smells it’s usually the Butz” já lhe diziam em pequeno…e com toda a razão. De igual importância neste primeiro jogo é a introdução de Miles Edgeworth, o promotor público que é o arqui-inimigo de Phoenix, e simultaneamente o seu melhor amigo, Dick Gumshoe, o trapalhão detective responsável pelas investigações de homicídios, o Juiz sem nome que julgará quase todos os casos da trilogia e Mia Fey, a irmã mais nova de Maya, que será a sidekick da série no decorrer da triologia. No segundo título, Phoenix Wright: And Justice for All, é introduzida outra personagem que acompanhará Phoenix como sidekick: a pequena Pearl Fey, prima de Maya e Mia, que é detentora de um poder místico sem igual, e Franziska von Karma, uma promotora pública, filha de um vilão do primeiro título. No terceiro e último título da trilogia, Phoenix Wright: Trials and Tribulations, é introduzido um novo promotor público, Godot, uma figura caricata e complexa que entrará em disputa com Phoenix em quase todos os casos do jogo.

É curiosa a forma como os autores introduziram a rivalidade entre advogados de defesa e promotores públicos enquanto conceito base do próprio jogo e da história. Neste universo existe uma linha diametralmente oposta entre ambos os lados, criando rivalidades de décadas entre advogados e promotores, fazendo da Sala de Tribunal uma verdadeira arena para ambos os lados.

Sem dúvida que uma mais-valia para a série é o seu alto cuidado com os diálogos, o humor e a emoção aplicadas a estes, os twists próprios dos melhores mistérios e policiais, e um elenco de luxo de personagens muito bem construídos e que vão, ao longo da trilogia, ter conexões estranhas entre si.














Visual:

Melhor concept art não se poderia esperar de uma empresa que nos habituou a personagens esteticamente espantosos, como é o caso da Capcom. Apesar do visual anime, que poderá demover os maiores depreciadores do género, o enorme elenco de personagens (e a sua qualidade visual) é de deixar qualquer um boquiaberto, onde assistimos a personagens tão variados como um detective cowboy (Jake Marshall em PWAA), um ilusionista super-estrela com um look glam rock (Max Galactica em PWAJFA) e um cozinheiro francês shemale com bigode e pêra (Jean Armstrong em PWTAT). Mais do que tudo, a arte de Phoenix Wright conseguiu fazer dos seus personagens memoráveis e dos seus cenários dinâmicos, ainda que não passem de ilustrações estáticas, altamente detalhadas.

Interface e jogabilidade:

As partes de investigação correspondem ao esperado em qualquer aventura gráfica: usar item no local x, falar com y, apresentar item z à pessoa y, etc. Mas é nas fases de tribunal que o jogo retém a sua grande inovação no género. Nós, enquanto advogados de defesa temos sempre a possibilidade de contra-examinar os testemunhos das testemunhas (quase pleonasmo), pressionando-as nas suas frases para tentar encontrar falhas ou mentiras nas mesmas (ou novos dados sobre os casos) e apresentar contradições nos seus argumentos, utilizando objectos que contrariem os testemunhos, e dessa forma, desmascarando a verdade e conseguindo ilibar os nossos clientes. Porque os nossos clientes são SEMPRE inocentes. E não se trata apenas de uma assumpção cliente-advogado, eles são sempre inocentes. Ou aliás, quase, quase sempre. Com as célebres " TAKE THAT!" e “OBJECTION!” em que Phoenix estende o dedo à testemunha para apresentar um objecto que a contrarie, ou o “HOLD IT!” que usa para os pressionar, e que se tornaram já, parte da memória cultural.


Em PWAJFA é introduzida a utilização do Magatama, o pendente místico de Maya Fey que permite quebrar mentiras (Psyche-Locks que aparecem visualmente como fechaduras) da mesma forma como se contra-argumenta em tribunal. Achei curiosa a introdução do Magatama, mas senti que a sua aplicação foi fazendo mais sentido, pois ficou a ideia que nas primeiras situações em que o Magatama foi utilizado, os contra-argumentos para quebrar Psyche-Locks soavam algo aleatórios.

-------------------------------------------------

Em geral considero a trilogia amplamente coesa no seu decorrer. As interligações entre os diversos casos e os diversos intervenientes está bem construída e explicada, terminando a história sem pontas soltas ou com a sensação dos diversos elementos não jogarem bem uns com os outros. Se considero este um dos pontos principais da série, tenho da mesma forma de apontar o segundo título como o menos bom, ou para ser mais preciso, o menos excelente dos 3. Os casos são bons, mas a interligação e sensação da história enquanto um continuum entre os 3 títulos por vezes perde-se por conter casos isolados entre si. Não quero com isto dizer que é um mau título, mas o caso final (que no 1º e 3º jogos são casos longos e de alta relevância no passado dos personagens principais) pareceu-me forçadamente extenso e sem grande impacto na continuidade. Divertido e empolgante, mas não ao ponto de tirar o fôlego como os casos finais de Ace Attorney e Trials and Tribulations.

Em suma, uma excelente série, que obriga a raciocínios complexos para compreender e desvendar os homicídios e encontrar a melhor forma de ilibar os nossos clientes. Um must-have para todos os detentores de uma Nintendo DS. Um must-play para todos os apreciadores de aventuras gráficas.

Classificação

Phoenix Wright: Ace Attorney

Phoenix Wright: And Justice for All

Phoenix Wright: Trials and Tribulations

(Todas as imagens e personagens são propriedade da Capcom Co., Ltd.)

Sem comentários:

Enviar um comentário