quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Paatos - Breathing (2011)





















Conheci Paatos há uns anos através da Loud e as analogias e similaridades descritas à banda deixaram-me bastante curioso em relação à sonoridade apresentada. Até hoje (e este álbum é mais um exemplo disso) os Paatos sempre conseguiram manter uma regularidade naquele que é o equilíbrio qualidade/experimentação.

Mantendo em background vestígios da proximidade trip-hop (em especial no timbre e envolvência da vocalista, Petronella Nettermalm), Breathing é assumidamente o álbum mais prog-rock da sua carreira: associando na perfeição esse registo atmosférico que lhes é natural, a uma forma mais directa de o complementar com guitarras um pouco mais "cruas", muitas vezes sem quaisquer efeitos. 

Compreende-se a escolha de Gone enquanto faixa de abertura (e a única do álbum com vídeo criado): permite que o álbum se abra a um público mais radio-oriented. Não quero dizer com isto que a música seja facilmente integrável num mercado mainstream, mas tendo em conta o restante alinhamento é notoriamente a música mais direcionada para o público do rock. 

O decisório posicionamento da banda num contexto mais prog-rock dá-se logo com a segunda faixa "Fading Out, exponenciada em termos de ritmo, andamento e intensidade musical pelas faixas No more Rolleercoaster, Breathing, Surrounded e é claro, a faixa de encerramento Over and Out, em que tanto a guitarra de Peter Nylander, o baixo da mais recente adição à banda "Rockis" Ivarsson e a bateria jazzy de Ricard Netterlmalm, conferem uma ligação feliz entre um toque jazzístico e um dinamismo mais próximos do rock/metal. E se a estranheza da quasi-timidez vocal da Petronella, com o seu registo muito próximo da Beth Gibbons pode à priori soar deslocada quando descrita, a realidade é que é essa delicadeza que confere uma totalidade a estas músicas.

Por outro lado, na grande complexidade e amplitude musical que é este Breathing (e o trabalho de Paatos na sua totalidade), encontramos também faixas que agradam a públicos tão abrangentes como os de Gótico,  Nu-jazz, ou Trip-rock. Se há alguma estranheza genérica nestas palavras, basta ouvir-se as faixas Shells, In that room, Andrum, Smärtan e Precious. E porque não a curta, ainda que hiper-melódica Ploing My Friend tocada apenas com uma caixinha de música?

Em suma, os suecos Paatos demonstram uma soberba maturidade neste Breathing. Apesar da diversidade entre faixas ser tão ampla, considero não existirem altos e baixos: mas sim um extremo nivelamento da qualidade, quiçá trazido por esta já referida diversidade. Breathing é um álbum pluricultural. Se facilmente enche as medidas a rockers, goths, e metalheads, da mesma forma que agrada ao público mais próximo de nu-jazz e trip-hop, até fãs de Portishead e Sigus Ròs. Se instrumentalmente todos os músicos (e as músicas criadas) são excepcionais, do ponto de vista técnico e melódico, a voz de Petronella - pouco usual fora de um meio mais trip-rock/trip-hop - é um grande ponto valorizador e diversificador da banda no panorama musical mais prog rock/metal. Com uma ambiência muito próxima das criações de Steven Wilson (não tivessem sido eles a banda de abertura de Porcupine Tree em algumas tours), Breathing envolve-nos e prende-nos, sem nunca largar até ao final do CD.

Breathing é um dos grandes álbuns de 2011 e um grande gateway para o público que desconhece a cena actual de prog rock/metal . Tanto é uma grande companhia para a solidão do trânsito, como um bom álbum para ouvir (só ou acompanhado) na escuridão da sala, de olhos fechados e copo de vinho na mão.

Classificação:





Gone, dos Paatos, propriedade de Paatos, e da Glassville Records.


segunda-feira, 19 de setembro de 2011

The Terminal




Sim, é verdade, só ontem vimos este filme do grande Steven Spielberg. Era daqueles que estava na prateleira à espera de ser visto e lá aconteceu. Admito que desenvolvi uma espécie de mixed feelings com este filme: se por um lado o conceito e o desenvolvimento  (em parte) me agradaram, e muito, mas por outro, a fórmula envelhecida usada para a catarse do filme, desanimou-me.

Conceito

A ideia subjacente ao filme é simples: imaginem que por uma piada da cruel da lei de probabilidades e da burocracia inerente a um País, alguém se encontra, à melhor forma de o enunciar, um apátrida. Em grande parte inspirado na história real de Mehran Karini Nasseri, que passou 18 anos da sua vida no Aeroporto Charles de Gaulle em Paris. O personagem de Tom Hanks, um homem oriundo de um País fictício do Leste Europeu, vê-se a braços com uma guerra civil no seu país, enquanto viaja para Nova Iorque. Caído nas malhas das burocracias internacionais, Viktor Navorski (Hanks) vê obrigado a viver na área de embarque internacional do Aeroporto JFK, sem nunca poder pisar solo americano.

Elenco

O Tom Hanks é um excelente actor. E apesar de o personagem dele ser uma repetição do Josh Baskin do Big, e é claro, do Forrest Gump. Não quero com isto dizer que ele seja de alguma forma "one trick pony", longe disso, Hanks tem é um carisma hiper-likeable nas suas interpretações, uma aura de pobre coitado, de quem se gosta de ter pena. E Navorski é isto mesmo: uma espécie de bondade pueril no meio da realidade contemporânea nova-iorquina. O que é simultaneamente uma lufada de ar-fresco, e uma incoerência que nos está sempre a afastar do mergulho directo na narrativa: são demasiadas as situações que nos relembram de estarmos a ver uma obra de ficção, quando o conceito subjacente tem como objectivo absorver-nos na quasi-realidade do filme. Do ponto de vista de desempenho, falta-me realçar o óptimo papel de Stanely Tucci, que interpreta o "director" de segurança do Aeroporto. Catherine Zeta Jones, a co-protagonista não consegue afirmar-se no próprio filme. Aliás talvez a intenção de Spielberg nem fosse essa. The Terminal é povoado em grande parte pela participação de Hanks. Diria até, que à excepção de Tucci, o restante elenco não o é: tratam-se apenas de figurantes.

Realização e fotografia

Trata-se de Steven Speilberg. É CLARO que o o visual (e a narrativa visual) do filme são excelentes. Mas disso ninguém duvida. 'Nough said.



Os mixed-feelings que referi no início da crítica centram-se sobre a fórmula adoptada por Spielberg. Enquanto via o filme senti uma espécie de atmosfera de comédia dos anos 80, das quais sou um ávido defensor. Até sensivelmente 3/4 do filme senti que estava perante amis uma obra-prima de Spielberg: senti-me embrenhado na narrativa, no passar dos dias de Navroski e das suas caricatas soluções para os diversos problemas. Esquecendo até que ele parecia deslocado da sociedade ante a forma positiva de ver as coisas, mas atribuí essa explicação à possível sociedade do seu fictício país. O relacionamento dele, com Dixon (o director do Aeroporto), o restante staff, e é claro, o seu romantic-interest, Zeta-Jones, pareceu-me verosímil, ainda que sob o prisma narrativo dos anos 80. Quando (e alerto para alguns spoilers) em simultâneo Navorski sabe que já pode viajar para o seu País, sair para visitar Nova Iorque e que Zeta-Jones o vai deixar por outro homem, a unica coisa que me passou pela cabeça foi "WTF?". Como é que, a catarse do filme é tão irrealista e anti-climática que se resolvem 3 linhas de conflito do personagem em SIMULTÂNEO??!! Penso que foi neste preciso momento que Spielberg perdeu as estribeiras do filme e relembrou-se que é Spielberg. E porque é que digo isto? Porque por mais sangrento, revolucionário, inesperado, que um filme dele seja, a caminhar para o final à sempre um aveludamento "à Spielberg". Apesar de mal tudo acaba bem, de alguma forma. E se acham curioso que se estrague a opinião geral de um filme apenas com os minutos finais do filme.

Não sendo um mau filme (Spielberg sabe fazê-los maus?) não é mesmo o momento mais inspirado. É um bom filme para se ver se se estiver consciente de que forma o próprio filme nos vai esbofetear na cara e fazer-nos lembrar de que se trata de ficção. Impressionante como ele consegue tudo para fazer um filme simplesmente genial e...bem estraga-o....

Qualquer semelhança com a realidade é pura ficção, e 250.000$ dólares pagos pela Dreamworks a Mehran Nasseri. Um filme que poderia levar 5 Erics leva:

Classificação